Primeiro, para alinhamento conceitual, vamos tentar definir o que significa a expressão hype: derivada da palavra hyperbole (hipérbole), é usualmente empregada para se referir a tudo que possui uma grande exposição, que está em evidência no momento, o “assunto da moda”, aquele tema com um nível de divulgação que beira – e em alguns casos atinge – o exagero (por isso a origem na figura de linguagem hipérbole).

Abaixo temos duas frases hypadas no universo jurídico:

Escritórios de advocacia devem ser geridos como empresas.

“O jurídico deve ser um departamento parceiro do negócio.”

Há alguns anos essas duas premissas passaram a ser repetidas à exaustão, martelando as mentes de sócios de escritórios e de gestores jurídicos de empresa, respectivamente. Todavia, a pressão pela mudança de mentalidade dos profissionais de direito no que se refere à visão de negócios é inversamente proporcional à clareza quanto à forma de alcança-la, fazendo com que a energia seja direcionada para soluções padrão: grandes projetos de reestruturação, investimento em tecnologias robustas e, via de regra, caras, e busca de formação complementar onerosa para os profissionais.

Esse caminho acaba trazendo a frustração, pois quando não há planejamento os investimentos se mostram muito maiores do que os resultados, e a impressão que fica é de que nada mudou – nem para melhor nem para pior – o que pode significar que buscar a profissionalização da gestão no segmento jurídico é apenas uma onda supervalorizada do momento (hype), mas não é algo efetivo para se obter resultados reais.

Mas e então? É só uma onda ou é necessidade de mercado? E por qual motivo muitos projetos são frustrados?

Primeiramente, vamos deixar claro: é hype, mas não é só moda e é uma questão extremamente importante para quem quer sobreviver e se destacar no mercado jurídico. E, justamente por ser hype, é comum que as pessoas sejam seduzidas pelos cases mais impactantes, que tenham maior destaque e chamem mais a atenção do mercado, e, via de consequência, mirem em modelos irreais que não solucionarão as suas verdadeiras demandas.

No caso de escritórios de advocacia, por exemplo, apenas investir em soluções tecnológicas ultramodernas não vai curar as dores, como, por exemplo, eliminar o risco de perda de prazos ou garantir que todos os reembolsos e honorários sejam cobrados tempestiva e adequadamente. Para que isso ocorra deve ser feito um trabalho prévio visando a criação de um sistema de gestão eficiente. Com isso, os softwares serão adequadamente alimentados e utilizados em sua plenitude, gerando todos resultados propostos.

Em jurídicos de empresas, de mesma forma, não basta que os gestores tenham formação em gestão e conhecimento de métodos e ferramentas para que área seja valorizada pela companhia. Se não é investido tempo conhecendo o negócio e se os profissionais do jurídico não buscam o alinhamento de expectativas com os clientes internos, a mudança de posicionamento não se efetivará. Para ser parceiro do negócio, primeiro você precisa conhecê-lo e, depois, definir juntamente com os demais envolvidos como o jurídico pode contribuir para o sucesso. Isto feito, todo o conhecimento adquirido pelos gestores será utilizado para implementar um verdadeiro jurídico pro business, através da aplicação de ferramentas e métodos adequados.

Em resumo: Não tente fazer o que os melhores fazem. Faça o que você tem que fazer para ser melhor do que já é, e continue fazendo até se tornar um dos melhores, para então poder fazer mais e melhor do que eles. Assim, você vai extrair resultados efetivos baseados em um modelo que é hype e não será apenas mais um que olha de longe e admira os que chegaram lá.

2019-03-26T20:06:09-03:00

Sobre o Autor:

Advogado com atuação focada na gestão de equipes jurídicas. Ocupou cargo de Executivo Jurídico em empresas do sistema financeiro e foi sócio em escritórios de advocacia. Especialista em Direito da Economia e da Empresa (FGV-MG). Coach e membro da SLAC.